sábado, 13 de junho de 2009

ARTIGO ALTO NÍVEL-ORGULHO DE CONHECER KARINE

INSERÇÃO DA MULHER NO COTIDIANO PÓS-MODERNO


Karine Aparecida de Oliveira Dias Vitoy[1]


RESUMO

Este trabalho se destina a apresentar a atual posição da mulher no cotidiano pós-moderno, como se encontra inserida no mercado de trabalho, sua posição social, mental, física e psicológica, partindo dos princípios que norteiam a consciência de ruptura dos padrões pré-estabelecidos e estigmatizados com a era moderna, proporcionando ainda, uma reflexão acerca da recondução do novo papel por ela desempenhado no coletivismo global.

PALAVRAS CHAVES
Posição, mulher, cotidiano, pós-moderno

ABSTRACT

This work is aimed bring forward woman position at the quotidian post-modern, as finds as in case that she inserted in the work market, your social position, mental, physics and psychological, how she breaking the conscience of the norms previous established and stigmatized with the period of time modern, by delivering still, a reflection nears from the renewal from the new paper that woman performance at the general collectivism.

KEY WORDS
Position, woman, daily life, post-modern


Introdução

As mulheres conquistaram, ao longo das últimas décadas, o direito de serem protagonistas da história, lutando para dividir o papel que, anteriormente, era reservado apenas aos homens.

Com a divisão de responsabilidades, que hoje, podem ser compartilhadas entre ambos os sexos, a estrutura familiar vivencia um momento de transformação, a qual reflete a evolução histórica e social dos últimos séculos.

O momento de transmutação de ideais que se segue a era moderna ou industrial, veio formar no nosso cotidiano o atual conceito de pós modernidade, que se apresenta como a era histórica que reflete a concepção de liberalidade de conceitos e valores dantes prolatados como absolutos.

No âmbito da mulher, a era pós moderna veio cassar a feminilidade e afrouxar os valores que permeavam o seu cotidiano, transformando-a nas relações de trabalho, no lar, na sociedade, provocando a turvação de sua visão para implementação de uma realidade que a deprecia como figura humana.

Vivemos em uma era de informações relâmpago e de conceitos subjetivos demais para os modelos modernos, na pós modernidade, o que vale é a escultura física, a imagem, o que pode ser reproduzido e o que o dinheiro pode comprar. O que faz sentido no mundo atual são os bens materiais de que as pessoas dispõem, a liberdade irrestrita, a cultura de massa e o individualismo.

O resultado dessa novel forma de ver o mundo ocasiona uma crise ética e estética, vez que inexistem padrões limitados, e o que vale é a forma livre, descompromissada e abstrata das relações humanas e sociais.



Primeiras percepções históricas

Nos primórdios da história, quando os homens ainda se alojavam nas cavernas e eram nômades, ao sexo feminino era atribuída basicamente a tarefa com a prole e afazeres domésticos. Com a evolução dos tempos e a fixação do homem, essas atribuições se alargaram e as mulheres ficaram encarregadas do cultivo de pequenas hortas, criação de animais de pequeno porte, cuidados com a família e a casa.

As novas atribuições, a evolução e complexidade do cotidiano, bem como, a nova experiência de convivência em grupos familiares, contribuiu para que a mulher desenvolvesse uma visão periférica acurada, com especial aperfeiçoamento dos sentidos ligados ao olfato, audição e ao tato, uma vez que os mesmos se tornaram essenciais para manutenção e desenvolvimento de suas atividades cotidianas.

Com o desenvolvimento sensorial e sua essência voltada para a proteção, criação e manutenção sociais, a mulher atravessou todas as fases da história ambicionando e conquistando novos espaços.

A revolução industrial veio contribuir sensivelmente para essa conquista, ainda que sob alguns pontos a mesma tenha se dado de forma discriminatória e depreciativa em torno do sexo feminino, tal momento histórico foi meio condutor da mulher ao mercado de trabalho anteriormente predominado pelo sexo masculino.

Deu-se com essa nova realidade, o chamado modernismo, ou era moderna, marcada pela razão e pela industrialização, bem como, pelos ideais de transformação social e aplicação de teorias abstratas à realidade. Foi uma época de grande criação cultural e intelectual, amparada por valores fundamentais trazidos a existência humana como verdades absolutas, incontestáveis.

O pós modernismo veio romper com a estrutura traçada pelo modernismo, trazendo consigo um ceticismo ante aos valores principiológicos até então existentes, implementando uma nova consciência social e cultural baseada na superficialidade e no esvaziamento do caminho dogmático.

Esse novo padrão de realidade interveio e influenciou substancialmente o cotidiano da mulher, inserindo-a em um contexto de desreferencialização, que privilegia a informação e a comunicação em massa como meios de difusão de valores e idéias apregoados pelo novo sistema.

Responsabilidade multifária

Consoante retratado acima, a mulher assumiu muitas responsabilidades ao longo de sua trajetória evolutiva, contudo, nenhuma delas foi tão substancial quanto à conquista do mercado de trabalho e a independência financeira.

Ocorre, contudo, que em busca da conquista de um universo tão masculinizado, a mulher pós moderna, vem enfrentando dificuldades em abarcar todas suas tarefas e conciliar os afazeres do lar e com os filhos, ao mercado de trabalho, estudos e cuidados pessoais.

Tal realidade gera instabilidade emocional, afetiva e social, causando cobranças multilaterais que podem ocasionar depressões e comprometer sobremaneira o bem estar físico e mental da mulher.

Corroborado a esse novo contexto de vida, a mulher se vê envolta em uma sociedade cada vez mais individualista e violenta, onde os fatores de inserção dos indivíduos estão mais ligados ao quadro social do que ao ambiente em que se compõem os seres sociais.

Na busca de colocação nesse quadro social, a mulher justifica sua luta insana pela conquista de mercado e de posições de destaque no âmbito profissional sem se preocupar com a saúde de sua alma.

Permeando toda essa nova realidade, a mulher inverte valores sociais primordiais e na ambição de competir, conquistar e destacar-se, acaba por produzir instabilidade no seio social, justamente quando ela deveria ser o instrumento de promoção do bem estar dessa sociedade, da tranqüilidade nos relacionamentos e da segurança familiar.

Com a inversão de papéis, a mulher deixa de executar o traçado feminino e avança desenfreadamente ao campo de atuação masculino, gerando resultados sociais catastróficos, com distúrbios de toda ordem.

Essa responsabilidade multifária desenvolvida pela mulher nesse contexto de pós modernidade, qual seja, dona de casa, profissional competente, mãe, amiga, esposa, amante, não deve ser vista como um fato ruim ou de empobrecimento social, ao contrário, existe uma contribuição considerável realizada pela mulher com as conquistas que vem colacionando ao longo dos anos.

O que se questiona no presente trabalho, são os meios, as condições, a velocidade das mudanças e onde as mesmas podem conduzir a mulher, bem como, que tipo de sociedade está se formando a partir do momento em que, ao alçar vôos profissionais e individuais, a mulher deixa de se voltar para o seio familiar, abdicando da maternidade e do relacionamento social convencional para usufruir relacionamentos efêmeros, desprovidos da função primordial para o qual foi concebida; cuidar, gerar, amar e acalentar.

Vale dizer, que tanto a satisfação pessoal quanto profissional devem ser perseguidas, uma coisa não inibe a outra, contudo, resta necessária a busca por um equilíbrio entre estas relações, o que não conseguimos vislumbrar na atual conjuntura social que se apresenta.
A natureza feminina e as novas doenças

Não é difícil compreender o porquê de a mulher ter por função precípua inserida em suas habilidades naturais, a de promover segurança e estabilidade nas relações sociais. Basta para tanto, analisar que a forma física e a estrutura psíquica da mulher foram desenvolvidas de forma diferente do homem; em geral, são mais delicadas, frágeis, românticas, sonhadoras e idealistas, embora tenham conquistado merecidamente, cada dia mais o seu espaço.

A estrutura formada pela natureza em torno da condição física e psicológica da mulher concede a ela a graça e a feminilidade para desempenhar seus papéis diuturnos sob saltos altos, com cólicas e devidamente maquiadas ainda que sob um sol escaldante, chuva torrencial ou frio intermitente.

Seria romântico pensar na mulher inserida no contexto pós moderno como alguém capaz de conciliar o ser e o ter sem perder as referências construídas ao longo de vários anos de lutas históricas.

O que se verifica hoje, contudo, é uma mulher machista, que se transforma a cada dia em objeto de exploração comercial, criminal e sexual. É uma mulher que trava uma luta insana tanto interna quanto externamente, gerando consigo e com o sexo oposto um verdadeiro campo de batalhas.

A mulher que funciona profissionalmente sob pressão, administrando empresas, gerenciando lojas, se especializando, não consegue administrar seus próprios sentimentos, permitindo a agressão de seu corpo e sua mente. Se deixa levar pelos modismos e pela cobrança social do perfil ideal magérrimo, sem se preocupar com a sua saúde física, mental e social, desprezando seus traços étnicos e culturais em nome da aparência e da boa forma.

O modelo de mulher atual não leva em conta os princípios e a educação firmados e traçados ao longo da era moderna, a mulher pós moderna é ágil, profissional, dona de casa, mãe, esposa, descolada, segura, dona de si, articulada.

Tais características, contudo, seriam perfeitamente aceitáveis se a mulher dos dias atuais não estivesse traçando para si e para as futuras gerações, aspectos sociais irreversíveis do ponto de vista psicológico e físico.

Percebe-se que a liberdade excessiva e o descompromisso nas relações interpessoais vêm, por outro lado, confrontar a nova realidade de conquista da mulher pós moderna, ocasionando o vazio, a solidão, doenças físicas e distúrbios psicológicos graves.

Atualmente milhares de mulheres sofrem stress, distúrbios alimentares, insônia, ansiedade, nervosismo excessivo, ausência de memória, bipolaridade, hipertensão, câncer, fadiga crônica, transtorno obsessivo, enfim, uma infinidade de doenças do corpo e da alma, que podem e afetam consideravelmente a qualidade de vida da mulher.

Estatísticas da Organização Mundial de Saúde sobre 21 países mostram que, dos 165 milhões de pessoas que morrem anualmente por causa de doenças cardiovasculares, mais da metade (8,6 milhões) é formada por mulheres. Nelas, os enfartes e derrames matam o dobro em comparação a todos os tipos de câncer juntos.

Nos Estados Unidos, dos 16 milhões de diabéticos, 60% são mulheres, mostra um estudo do Federal Center of Disease Control and Prevention (CDC).

De acordo com dados da Global Reality of Attitudes on Stroke Prevention and Hypertension (Grasp), uma entidade ligada à Federação Mundial do Coração, o derrame é responsável por 11% das mortes femininas, contra 8% das masculinas no mundo. Em números absolutos, a doença mata anualmente cerca de 2,9 milhões de mulheres contra 2,5 milhões de homens.

Vale dizer, que esses dados foram coletados em 2003, e nosso estudo esbarra na dificuldade de coleta dados atualizados, prescindindo, portanto, de uma pesquisa e estatística mais acurada pelos órgãos ligados a saúde.

Contudo, estudos particulares recentes mostram que a condição física e mental da mulher vem se agravando a cada ano, gerando um descompasso e uma desestruturação social intensa, fatores esses que são ocasionados pelo meio, pelo estilo de vida e pelo próprio momento histórico vivenciado.

O cotidiano e a inserção da mulher

Nunca é demais frisar que a mulher encontra-se inserida em várias atividades, as quais vêm transformando seu estilo de ver a vida e o seu relacionamento com o mundo. Nesse novo contexto, encontra-se a violência, a exploração e o crime.

A violência se apresenta como um sério problema para o crescimento e o desenvolvimento da humanidade, gerando um grave problema de segurança pública. Do ponto de vista da realidade da mulher, os problemas mais relevantes são do ponto de vista micro-estrutural, a violência doméstica, a prostituição e a criminalização regionais, contudo, a atualidade também nos apresenta problemáticas a nível macro.

Essa violência não é só aquela ocasionada pelas extremas desigualdades sócio culturais encontradas no desemprego, na exclusão social, na exclusão moral, na corrupção e na impunidade, mas também a violência que extrapola as fronteiras do lar e se externaliza no âmbito do desenvolvimento social como nos homicídios, estupros, tráfico de pessoas, etc.

Dentro desse contexto, ainda está presente a violência de cunho psicológico, com a prática de comportamentos anti-sociais e o desenvolvimento de um momento emocional negativo.

No intuito de responder ao conjunto que ora se apresenta, tanto o Estado quanto o terceiro setor, se compõem no intuito de buscar resultados, que quando não vem, o vem de forma deficiente. Isso se dá por falta de estrutura, de conhecimento ou de otimização dos serviços a serem prestados à sociedade.

O comércio ilegal de pessoas para fins de exploração sexual também é outra realidade que concentra a maior gama de questões relacionadas à violência, cerca de 80% das mulheres que deixam o Estado de Goiás para se prostituirem na Europa, estão entre 18 e 29 anos e deixam uma média de dois filhos menores de idade.

O Ministério da Justiça constatou que os Estados de Goiás e do Ceará lideram a migração ilegal de mulheres para a prostituição no continente europeu, sendo necessária a colaboração da Organização das Nações Unidas (ONU), que instalou em Goiânia um escritório de apoio às vítimas e suas famílias, para fins de auxiliar o processo de busca e investigação.

Nesse combate a exploração sexual, a Justiça Federal e o Ministério Público Federal, vêm desmontando inúmeros esquemas de prostituição de alta rentabilidade, contudo, o sonho de ficar rica tem conseqüências e leva milhares de mulheres a óbito todos os anos.

Como senão bastasse, a mulher atual encontra-se cada vez mais envolvida no mundo do crime e a situação nos presídios brasileiros também causa preocupação.

A falta de estrutura física adequada para abrigá-las e a manutenção de mulheres no mesmo estabelecimento que os homens infringe os dispositivos da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84), que estabelece que tanto as mulheres quanto os maiores de 60 anos devem ser “recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal”.

Das vinte e cinco mil mulheres que estão presas em cadeias brasileiras, boa parte delas foi condenada por furto e tráfico de drogas. Muitas são conduzidas ao mundo do crime por seus maridos ou companheiros e dentro dos presídios, nem é necessário comentar as condições subumanas em que essas mulheres se encontram.

Outro fator preocupante é a gravidez e a amamentação dentro do presídio. A Lei garante a mãe o direito a amamentação no período de seis meses, contudo, a estrutura prisional não permite a permanência digna da criança com a mãe nesse período. Muitos saem antes de completar os seis meses de vida e são entregues a entes familiares, quando os possuem, e muitos, por não terem parentes ficam presos com as mães ou são levados pela assistência social, permanecendo em abrigos até ocorrer a adoção, quando ela ocorre.

A Lei Maria da Penha, que visa proteger a mulher da violência doméstica, tem se mostrado relevante do ponto de vista da regulamentação legal, contudo, ainda é ineficiente, uma vez que os agentes públicos ainda não conseguem aplicá-la de forma adequada. A Lei também não conseguiu reduzir os casos de agressão, nem tão pouco punir de forma conveniente os agressores.

O dia a dia nos mostra, inclusive, que os casos de agressão física e psicológica estão cada vez mais freqüentes no cotidiano da mulher, ocasionando os distúrbios físicos e psíquicos dantes mencionados, gerando uma grande instabilidade social.

Conclusão

Veja-se, com isso, que o contexto social em que a mulher encontra-se inserida nesses tempos de pós modernidade vai muito além da busca incessante pela realização profissional e pessoal.

A mulher da atualidade necessita conviver com as intempéries de uma sociedade despreparada para reconhecê-la, acolhê-la, protegê-la, ampará-la, educá-la e valorizá-la.

O que se vê da sociedade e da própria mulher atual são a inversão de valores, princípios e objetivos. O que se vê é uma mulher cada vez mais esgotada, insatisfeita e infeliz, que busca revelar-se ao mundo de qualquer forma, a qualquer preço, nem que para isso tenha que dispor de sua integridade física e mental, sem ponderar as conseqüências.

Tais fatores elevam o grau de risco social e comprometem o futuro das novas gerações.

A violência, a exploração sexual, a prostituição, a discriminação, o tráfico de pessoas, a inserção no mundo do crime, as doenças físicas e psicológicas e a mortalidade precoce são reflexos e conseqüências do ambiente social pós moderno em que a mulher encontra-se inserida.

É preciso repensar urgentemente a política pública, o ambiente social, as condições de assistência físicas e mentais colocadas a disposição das mulheres, a fim de que as mesmas possam usufruir, gozar e dispor da parte favorável dos novos conceitos que a pós modernidade pode oferecer.

Faz-se necessária uma recomposição e reestruturação social, com a inserção da mulher no contexto pós moderno de forma a conceder essa mulher condições físicas e psíquicas de realizar-se enquanto profissional, mãe e ser humano digno do respeito que merece.




[1] Advogada militante formada pela Universidade Católica de Goiás - UCG, mestrando em Direito e Relações internacionais também pela UCG, pós-graduada em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito Previdenciário. E-mail: karine@marquessiqueira.com.br

2 comentários:

Unknown disse...

Dra Karine,
Toda a advocacia de Goiás se orgulha de tê-la em nossos quadros. Parabéns pelo artigo e sucesso na apresentação em Paris.
Abraços,
Larissa Costa
Comissão Mulher Advogada
OAB-GO

Unknown disse...

Karine, parabéns pelo artigo.
Continue buscando o caminho do saber-dialético. Sucesso é o que desejamos!
Abraços,
Symone Calil e Miguel Cançado, presidente da OAB-GO.